Hoje estou fazendo uma grande mudança, depois de alguns anos empreendendo na Opideia e recentemente na Globalbot, estou me desligando da startup.
A experiência
Foram quase dois anos ajudando no desenvolvimento da Globalbot, foram muitas noites de programação, longas viagens de carro que duravam quase dez horas, entre Porto Alegre e Florianópolis. Vários fins de semana sem pausa, muita pressão até colocar o produto no mercado. Começou como um MVP na minha antiga software house, mas em pouco tempo passou a receber clientes de peso.
O projeto foi idealizado pelo meu ex-sócio Felipe Volpato, rascunhado em um guardanapo durante um vôo entre SP e POA. Este primeiro MVP colocamos no ar em uma semana, em poucas semanas, os primeiros clientes estavam comprando. Hoje o cenário é bem diferente, com quase dois anos no ar e dezenas de features criadas, automatizando processos de negócios complexos e suportando milhares de usuários. Um negócio que começou pequeno e chegou a um ótimo estágio, com potencial gigantesco de crescimento. Sem dúvida ainda há muito por fazer, afinal tudo cresceu rápido e alguns débitos internos foram criados para poder suprir as demandas que chegavam.
No inicio o produto foi concebido de maneira enxuta do ponto de vista técnico, os objetivos eram simples e não havia tanto uso, mas em poucos meses começamos a ter os primeiros clientes e a base de usuários ampliou expressivamente.
Neste período decidi que em abandonar o monólito que estávamos criando e começar uma nova arquitetura baseada em micro-serviços e no-sql. Não havia muito a se fazer, mas adicionamos novos recursos e definimos um escopo mais amplo, o que nos permitiu ir ainda mais longe.
Durante esta fase, além de lidar com o core do produto, precisei me envolver na preparação do primeiro time, as primeiras cerimônias scrum, os primeiros processos, queria começar a cultivar a cultura de agilidade e colaboração. E como não destacar o relacionamento com os principais parceiros, AWS, Microsoft e IBM. Havia muito a se fazer, a vontade de abraçar todas as partes do negócio, de ajudar em tudo que fosse possível era incansável.
Após um bom período envolvido com toda tecnologia e infraestrutura, comecei a dedicar parte do meu tempo com a Gestão do Produto, uma parte que sempre me identifiquei.
Entrevistar clientes para entender sua dor e buscar uma solução viável é algo que sempre me motivou, na Opideia era algo que praticava muito, sempre gostei de me relacionar e conversar com os clientes, traduzindo suas ideias em softwares.
O universo de Produto Management é uma área que sempre gosto de estudar, ler e buscar referências. Acredito que para que qualquer Engenheiro de Software deve buscar entender muito bem para quem está codificando. Existem inúmeros assuntos interessantes que quero compartilhar por aqui sobre isto, em breve pretendo dedicar um espaço no blog só para o tema e Gestão de Produtos SaaS.
Durante está fase, costumava acreditar no lema:
“Vamos investir tempo no que gere valor para o cliente”.
Entender a necessidade do cliente, estimar o esforço com o time e qual recurso será necessário, mapear o retorno daquela funcionalidade, qual o impacto no nosso faturamento e re-priorizar o roadmap, eram atividades quase diárias, algumas vezes não feitas em sua totalidade, mas começamos a desenhar e adotar os processos.
Como nosso time era pequeno, os recursos eram limitados, para tentar atender tudo que era demandado, procurava organizar o que era uma necessidade real de cliente, que gerasse valor para o maior número de usuários e fizesse sentido para o negócio. Eu sempre tentava tirar tudo aquilo que era vaidade. 🙂
Aprendizado e Conexões
Apesar de toda correria, sobrava tempo para inúmeros momentos épicos, entre alegrias ao conquistar clientes incríveis, ao comemorar nossa entrada no programa Sebrae SC, a seleção no programa de aceleração do Darwin Startups, também a decepção com parceiros de negócio que confiávamos e resolveram nos sacanear (faz parte), as discussões sobre planos e metas com meus sócios, Felipe e Raquel, além de todo o aprendizado adquirido com o ecossistema.
A propósito, o aprendizado adquirido durante este período foi incrível, tive a oportunidade de participar de inúmeras mentorias e workshops promovidos pelo Sebrae SC, programa lindamente organizando pelo grande Alexandre Souza.
Dentre os workshops promovidos, aprendi muito com o Rafael Assunção, um dos founders da Decora, vendida recentemente por US$ 100 milhões, um cara fora de serie, muito afim de ajudar, compartilhar sua experiência e mostrar caminhos mais eficientes. Raphael Farinazzo, Product Manager da RD Station com uma bagagem gigante em gestão de produtos, nos trouxe uma vivência prática em como priorizar, organizar e gerir tantas demandas. George Eich da CoBlue, um baita guru sobre OKRs, nos ensinou na prática como fazer o método gerar valor para nós.
Eu poderia fazer um post só para compartilhar estas experiências, estes workshops promovidos pelo Sebrae, sem dúvida, foram uma das melhores partes desta jornada.
Com o Darwin Startups tive a oportunidade de vivenciar as principais fases de um programa de aceleração, na prática foram conversas de alto nível, com profissionais como Marcos Mueller, Mateus Xavier, Marcos Buson, Ug Cobra, Otávio e André Hotta. Tivemos a oportunidade de ter acesso a pessoas como Jaime de Paula da Neoway, Guilherme Reitz fundador da Axado, aquela startup comprada pelo Mercado Livre em 2016, ao Diego Cordovez da Meetime com sua baita experiência em Inside Sales, enfim, foram muitas conexões e palestras, muitas inclusive me fizeram refletir sobre todo este universo do empreendedorismo.
O impacto desta galera no ecossistema de Florianópolis é admirável, os caras possuem as conexões certas, e algumas startups em destaque passaram por lá, como a própria Meetime, acelerada no Batch #1. Sem dúvida, para quem quer empreender em Floripa, precisa conhecer o trabalho deles.
E porque mudança na carreira?
As vezes precisamos saber reconhecer que o melhor é sair de cena e deixar que as coisas se acomodem sozinhas. Nem sempre acertamos em nossas decisões e é preciso reconhecer que as vezes falhamos. Tenho certeza que a experiência que tive me serviu para enxergar um outro lado do meu perfil, agora tenho trabalhado e está servindo de base para meus futuros projetos.
Acredito que sou uma pessoa fácil de lidar, tenho uma mente aberta e me adapto fácil a mudanças, no entanto, sou bastante enérgico, detalhista e quando preciso, viro noites resolvendo um problema, porém experimentei que neste excesso, existe uma linha muito tênue entre o que precisa ser feito e o queremos fazer.
Você não é um Super-herói
Bem, sabe aquele desejo de querer fazer tudo perfeito? Isso muitas vezes pode ser um tiro no pé, nem sempre é necessário, mas isto não significa fazer de qualquer jeito. Faça o que precisa e faça bem feito. Invista na melhoria contínua, updates constantes, principalmente se você está em um estágio inicial, afinal tudo é limitado.
É mais efetivo investir em processos simples, transparência com o time e uma comunicação clara, do que buscar as melhores práticas, e principalmente, diga não. Você não é um Super-herói.
Métricas, encontre a sua realidade
Acredito muito em métricas e fatos para tomada de decisões, considero fundamental para manter um time focado no que precisa ser feito, separando o que é vaidade daquilo que o cliente realmente quer pagar para ter. Aí também mora um perigo, pois normalmente passamos a definir muitas métricas e até mesmo nivelar nossa realidade com a Startup x ou y.
Pois bem meu jovem, a receita deles, nem sempre vai funcionar para você, neste tipo de situação buscar mentores ou uma aceleradora com pessoas experientes pode ser uma alternativa.
Bem, eu presenciei alguns destes problemas na prática, exagerei em alguns e acabei percebendo isto tarde. Acredito que meu preciosismo me fez perder o timig do negócio e quando eu menos percebi, não estava gerando o devido valor para o time, nessa hora senti falta de um mentor do lado. Todo empreendedor deveria ter um.
Posso afirmar de longe, foi uma experiência fantástica, tive a oportunidade de trabalhar com pessoas incríveis, aprender muito e lançar o produto.
A beleza destas experiências que passamos, é que a cada ciclo amadurecemos mais, passamos a ter mais clareza sobre coisas que parecem tão obvias e também a compreender nosso propósito nessa jornada toda.
Novos planos. Novos desafios.
Inquieto que sou, tenho certeza que ali na frente vem novidade.
Existem muitos problemas não resolvidos ou mal servidos, empreendedor gosta disso, de ajudar a resolver problemas reais. 😉
Avante sempre!